segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

A História de Holambra...


"Com a devastação provocada pela Segunda Guerra Mundial em toda a Europa, os holandeses viram poucas perspectivas de futuro em seu País, pois teriam que praticamente reconstruí-lo. O governo holandês incentivou então a imigração principalmente para o Canadá, Austrália, França e Brasil. O Brasil seria o único País a aceitar imigração de grandes grupos, sendo estes católicos. A Associação dos Lavradores e Horticultores Católicos da Holanda (Katholieke Nederlandse Boer en Tuinders Bonde – KNBTB) enviou para o Brasil uma comissão para viabilizar o projeto de imigração e firmar um acordo junto ao governo brasileiro.
As autoridades governamentais na época eram Juliana van Orange, Rainha Regente nos Países Baixos; General Eurico Gaspar Dutra, Presidente do Brasil; Klein Molekamp, embaixador de Sua Majestade a Rainha da Holanda no Brasil; e Dr. Adhemar de Barros, Governador do estado de São Paulo.
 TOPO
  
Em 15 de junho de 1948 o ministro para assuntos de colonização, senhor Jorge Latour, fechou acordo com o diretor do frigorífico Armour em Chigago, acertando a compra de 5000 hectares, na fazenda Ribeirão, para assentamento de camponeses holandeses.
Em 14 de julho de 1948, o líder e idealizador do projeto de imigração, o Senhor J. Gerrt Heymeyer, oficializou as atividades de exploração e colonização fincando uma pá simbólica no chão, dizendo a seguinte oração; "Deus, abençoe o nosso trabalho". Formou-se a Cooperativa Agro Pecuária Holambra, cujo nome originou das iniciais HOLanda, AMérica, BRAsil.
Sem permitir que saísse da capital do País, já que a Holanda se reestruturava pós guerra, os imigrantes depositavam seus valores na conta da Cooperativa para uso conjunto de seus associados. O governo holandês enviaria gado, máquinas e outros materiais necessários. Para os imigrantes seriam encontrados tempos difíceis, matas densas de vegetação nativa tipo cerrado fechado, para desmatar.
Nos primeiros meses de colonização foram enviados para o Brasil, primeiramente um grupo de solteiros, para a preparação de chegada das famílias. Era necessária o melhoramento das casas que já haviam, casas estas de pau a pique onde o piso de chão batido foi substituído por cimento e as paredes pintadas com cal. Diziam as senhoras que as crianças nascidas nestas casas, já eram batizadas ao nascer, pois quando chovia, chovia mais dentro do que fora. E antes de irem dormir era necessário dar uma varridinha no chão, para certificar de que nenhuma cobra se encontrava dentro de casa. A construção de casas de alvenaria em série não demorou, formando assim as primeiras vielas.
A viagem de imigração era feito em navios de carga, com limitação de espaços para os passageiros, onde as pessoas ficavam comprimidas umas às outras, de forma que havia pouca privacidade. O número variava entre 60 imigrantes de cada vez. Foi assim que se estabeleceram os primeiros contatos entre os imigrantes, já que nas três semanas de travessia tinham poucas ocupações. A ajuda mútua era necessário nos momentos difíceis, muitos sofriam de enjôo, estavam enfraquecidos, sentiam fome, depois da primeira semana a alimentação era precária quando não, estragada.
Após a chegada ao primeiro porto brasileiro, em Recife, o primeiro contato com a nova terra, os holandeses ficaram impressionados com a paisagem, tipo físico das pessoas, frutas e legumes vistos no mercado, mas se conscientizaram que a língua e o clima seriam grandes obstáculos em sua adaptação. Do porto de Santos até Campinas, o trajeto era feito de trem, duas locomotivas para puxar alguns vagões, o que deixava espanto nos imigrantes: Porque duas locomotivas? A resposta vinha logo na serra, assustador mas maravilhoso, uma vez que a paisagem na Holanda é toda plana. De Campinas para a Holambra, o trajeto de 40 km era feito de ônibus ou caminhão, por estradas escorregadias e cheia de buracos.
O trabalho mútuo em comunidade, ajudou a formar os primeiros sítios e as primeiras plantações. O trabalho era muito pesado devido ao clima e nem sempre a capacidade física dos imigrantes era levada em consideração pelas lideranças, que aliás eram pouco experientes. Mas as primeiras colheitas se viram prejudicadas pelas chuvas e aparecimento de ervas daninhas.
O gado holandês puro de origem deveria servir de base para montar uma fábrica de laticínios, mas devido a longa viagem, a vacinação recebida em São Paulo, a febre aftosa e outras doenças, este projeto não foi bem sucedido. Com as dificuldades encontradas, muitos imigrantes desistiram retornado para a Holanda ou tentando a sorte mais ao sul do Brasil, como em Monte Alegre, Castrolanda, Arapoti e Carambeí no Paraná e Não-Me-Toque no Rio grande do Sul.
Para os que persistiram na colonização de Holambra, o trabalho conjunto com colonos brasileiros, foi fundamental. Mesmo com a dificuldade da língua, usando a comunicação de sinais, a troca de experiências ajudou no plantio de culturas que acabaram dando certo. Para os brasileiros foi necessário colocarem apelidos nos holandeses, pois os nomes estranhos e complicados não conseguiam pronunciar, como por exemplo: ‘Espírito Santo’, Calça Curta, João Choque, Cabeça Chata entre outros. A Holanda mandou alguns especialistas em diversas áreas dando assistência aos imigrantes na condução das culturas. Foram todos orientados para a policultura, ou seja, ter mais de uma atividade agrícola, possibilitando colheitas alternativas.
O cultivo de flores iniciou se timidamente no ano de 1951, com a produção de gladíolos (palma de santa rita), más foi entre 1958 e 1965 que a cultura se expandiu. Em 1972 criou-se o departamento de floricultura, dentro da cooperativa para a venda de grande variedades de flores e plantas ornamentais. Anos depois foi implantado o ‘Veiling’, sistema de leilão.
A vida comunitária teve seus improvisos. Um barracão onde funcionava a marcenaria cedia espaço para noites dançantes, ao som de discos trazidos da Holanda ou ao vivo por harmônicas e gaitas tocados por imigrantes. Nestes bailes, nos sábados a noite, holandeses e brasileiros dançavam juntos mesmo com dificuldades de idioma. As atividades esportivas também eram valorizadas como forma de entrozamento. Aos domingos todos se encontravam ao pé da cachoeira, para se refrescar. Depois, por motivo de perigo de acidentes na cachoeira, foi construído um grande lago artificial, transformando o em ‘Mini Praia’, local para esporte aquático, aulas de natação, lazer e confraternização. A prática de futebol iniciou se em campos de chão batido, passando também a jogos de vôlei. Em 1960, na comemoração dos doze anos e meio de Holambra, fundou se um clube, com campos gramados e quadras.
Para jovens e crianças foram formadas vários grupos de escotismo, seus líderes todos voluntários. Uma escola de economia doméstica ensinava a arte de costurar, bordar, cozinhar, pintar entre outras.
Na área da saúde, durante muitos anos desde a sua fundação, Holambra pôde contar com a colaboração voluntária de um médico brasileiro, chamado Dr.Arlindo, tornando-se rapidamente um ‘médico amigo’ e um ‘amigo médico’, pois era com ele que a maioria dos imigrantes confidenciavam seus males e principalmente suas saudades da terra natal. Os partos nos primeiros anos eram feitas nas próprias residências, por enfermeiras parteiras, que faziam suas visitas em charretes ou mesmo a cavalo.
As atividades religiosas foram nos primeiros meses sediadas num pequeno espaço, na casa sede da fazenda Ribeirão. Em janeiro de 1949 este local já se tornou pegueno devido ao grande número de fiéis, que aumentava mês a mês. Passando assim por várias reformas, nunca conseguindo acompanhar o crescimento da comunidade cristã. As missas especiais como a da festa da colheita, Páscoa, Natal, teatros e outros encontros religiosos, onde o número de pessoas era muito grande, realizavam-se embaixo de uma enorme "Paineira". Para abrigar a todos os fiéis, holandeses e brasileiros, resolveram então construir uma nova, grande e definitiva igreja. Esta foi inaugurada em 1966. Até 1980, Holambra enterrava seus mortos em Jaguariúna e passou a ter cemitério próprio em frente a igreja.
A integração holandeses e brasileiros se deu logo no início, em festas e bailes, ou na prática de esportes. No entanto, o primeiro casamento ocorreu em 1956 entre homem holandês e mulher brasileira. Nos anos seguintes mais holandeses se casaram com brasileiras, más até 1970 o número era modesto. Até então não havia sido realizado praticamente nenhum casamento de mulheres holandesas com brasileiros. Este fator se deve ao cultural. Nos anos 80 e 90, a porcentagem de casamentos já era mista.
Até os anos oitenta Holambra era uma pequena comunidade sem grandes problemas a nível social. Resolvia-se tudo entre eles mesmo, com comissões de voluntários de todas as áreas, como por exemplo: comissão de igreja, outro de esporte, saúde, cultural e outros. Para os assuntos municipais, Holambra pertencia a Jaguariúna, más sua localização se dividia nos municípios de Artur Nogueira, Cosmópolis, Santo Antonio de Posse e Jaguariúna. Os impostos pagos pouco revertiam melhorias para Holambra.
A conservação de estradas, asfaltamento das vias principais e abastecimento e tratamento de água, era feito pela Cooperativa. Por isso, em 27 de outubro de 1991, deu se a votação do plebiscito decidindo a emancipação politico-administrativa , criando o município de Holambra. Em primeiro de janeiro de 1992, tomou posse o primeiro prefeito de Holambra.
Em abril de 1998, Holambra recebe o título de Estância Turística. Hoje com 11.292 mil habitantes (IBGE, 2010), Holambra se firma no cenário nacional e internacional como Cidade das Flores.
O Museu Histórico e Cultural de Holambra , localizado na Alameda Maurício de Nassau s/n, no centro de Holambra, expõe esta história de imigração e colonização holandesa, através de um acervo de duas mil fotos, réplicas de casas de pau-a-pique e alvenaria devidamente mobiliadas da época, como também, objetos, maquinarias e tratores utilizados pelos imigrantes.

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